Brasileira é vítima de tentativa de estupro em trem na França e denuncia falta de acolhimento das autoridades
- FORTE POR SER MULHER

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A brasileira Jhordana Dias, de 26 anos, viveu momentos de terror dentro de um trem em Paris, na França, na manhã do dia 16 de outubro. Sozinha em um dos vagões, ela foi agredida e quase estuprada por um homem que a havia observado momentos antes. O caso ganhou repercussão internacional após o jornal francês Le Parisien divulgar um vídeo em que Jhordana aparece chorando e pedindo ajuda, enquanto o agressor é filmado saindo do trem.
De acordo com Jhordana, ela havia embarcado na linha C do RER (Réseau Express Régional) por volta das 8h. Em uma das paradas, o homem — que já havia chamado sua atenção por um olhar “estranho” — desceu junto com outros passageiros, mas retornou instantes depois, indo em direção a ela.
“Quando eu vi ele entrando, do jeito que ele me olhou antes, eu senti que eu ia ser atacada”, relatou a brasileira
O agressor sentou-se ao lado de Jhordana e, quando ela tentou se levantar, a violência começou.
“Ele puxou minhas calças, começou a me beijar. O beijo não foi correspondido, então ele mordeu minha boca, arranhou meu rosto, deu um tapa no meu ouvido... eu fiquei perdida.”
Desesperada, Jhordana começou a gritar por socorro. Foi então que uma mulher, em outro vagão, ouviu os gritos e correu para ajudar. Ao perceber a presença da passageira, o agressor se assustou e fugiu. Jhordana conseguiu empurrá-lo e sair correndo.
“A minha única reação foi ligar para o meu irmão, porque eu não falo francês e o pouco que eu sei eu esqueci no momento de desespero”, contou.
O irmão, Cícero Gomes, que também vive na França, relatou o desespero ao atender a chamada de vídeo:
“Ela apareceu com o rosto todo ensanguentado. Disse que um homem tentou pegá-la dentro do trem.”
A passageira que socorreu Jhordana filmou o suspeito, que desceu na estação seguinte após ser confrontado. O vídeo foi entregue à polícia.
Falta de acolhimento e demora nas providências
Cícero chegou à estação cerca de 15 minutos após o ataque. Policiais e seguranças já estavam no local, mas o suspeito havia fugido. Na delegacia, os irmãos esperaram o dia inteiro para registrar o boletim de ocorrência.
Segundo eles, o atendimento começou de forma acolhedora, mas logo foi marcado pelo descaso.
“Quando eu disse que ela não falava francês, a policial respondeu que não poderia se ocupar de nós. Disse que precisaríamos esperar”, relatou Cícero.

Jhordana passou por exame médico particular, já que o corpo de delito oficial foi marcado apenas para o dia 29 de outubro, quando seus ferimentos já estariam cicatrizando. O laudo confirmou mordidas, arranhões e hematomas no rosto e pescoço.
“Conversando com o policial, eu senti que aquilo ia ficar para debaixo do pano. Muita coisa aqui é abafada”, desabafou Cícero.
O Ministério da Justiça da França afirmou que a investigação está em andamento. Já o grupo SNCF, responsável pela linha de trem, disse que não vai se pronunciar.
Violência contra mulheres em espaços públicos
O caso de Jhordana se soma a uma preocupante estatística sobre violência de gênero na França. Segundo levantamento do grupo feminista Osez Le Féminisme, 97% das mulheres francesas já sofreram algum tipo de assédio em transportes públicos, 60% foram vítimas de agressão sexual e 7% relataram ter sido estupradas nesse contexto.
Em nota, a organização afirmou que “é inaceitável que a segurança das mulheres dependa do acaso ou da coragem individual” e que são necessárias políticas públicas concretas e eficazes para proteger as mulheres.
“Em nenhum lugar do mundo você está segura”
Abalada, Jhordana desabafou sobre a sensação de vulnerabilidade que acompanha as mulheres em qualquer parte do mundo.
“Hoje em dia, ser mulher é difícil. Em lugar nenhum do mundo você está segura. É normal você ser ofendida por olhares. Não que isso seja normal, mas está se tornando normal.”
O caso evidencia não apenas a violência de gênero, mas também a falta de estrutura e empatia institucional para lidar com mulheres vítimas de agressão — um problema que ultrapassa fronteiras e reforça a urgência de se combater o machismo e o sexismo em escala global.
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